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30 décembre 2015

Irão I - De Teerão a Xiraz

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One's destination is never a place, but a new way of seeing things.

Henry Miller

 

O sonho era antigo! O Irão sempre me despertou interesse e depois daquela conversa com o Chico que tinha acabado de conhecer em 2003 ficou decidido. Tenho de ir...
O Chico tinha acabado de chegar de uma grande viagem ao Irão. Vinha em êxtase e com relatos fantásticos. "Foi a viagem da minha vida", disse-me, e depois de tudo o que ouvi, não restavam mesmo dúvidas. Dias depois empresta-me o seu guia de viagem, e está dado o sinal de partida.
Passaram-se mais de 10 anos até chegar o momento e a oportunidade que tanto desejei. Valeu a espera e esta foi mesmo a melhor altura.

Tudo começa na embaixada da República Islâmica do Irão em Lisboa, com o pedido do visto de turismo. Ao contrário da maioria das embaixadas, fui extremamente bem recebido e com a sensação que tudo fariam para me ajudar. Uma boa amostra do que é verdadeiramente o povo Iraniano. Dias depois estava de regresso para levantar o visto e... Tão feliz!!!

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O nome Irão deriva do Persa "Eran", que vem do termo Aryan e que significa a terra dos Nobres. Foi usado pela primeira vez no 1º milénio AC e ainda hoje continua a fazer sentido a sua origem.

 

Teerão

Chego ao aeroporto internacional de Teerão Imam Khomeini bastante cedo, por volta das 6h da manhã. Viagem tranquila e não muito longa, com escala em Istambul. Como em todos os aeroportos, a esta hora ainda não há muita actividade e isso reflecte-se noutros serviços, como por exemplo o controlo dos passaportes. Chego à sala e dos muitos pontos de controlo apenas uns 4 ou 5 estão abertos. Procuro a fila correcta mas todas dizem "Cidadãos Iranianos"... Fico confuso, revejo os paineis informativos e opto por uma das filas ao acaso. Tenho sorte, pois passado muito tempo começam a canalizar todos os estrangeiros para a minha fila, que era a única que os estava a aceitar. Por outro lado, tenho azar e apanho o guarda mais preguiçoso delas todas, e era de longe a mais lenta.

Dadas as sanções a que está sujeito, o Irão está fora do sistema monetário internacional e isso faz com que nenhum dos cartões bancários estrangeiros seja aceite no país. Esta situação leva a que tenhamos de trazer todo o dinheiro que precisamos para a nossa estadia. As boas notícias é que os Euros são aceites na grande maioria dos hoteis, e em todo o lado é bastante fácil trocar Euros por Rials.

Assim, e depois de levantar a bagagem lá me dirijo eu para o único estabelecimento de câmbio que encontrei de modo a poder trocar alguns Euros para os primeiros dias e até mesmo para a viagem de taxi até ao centro de Teerão.

Na fila do Câmbio sou abordado por Mehdi, que se encontrava nas imediações. Oferece-me ajuda para preencher o impresso para a troca do dinheiro, que estava todo em Farsi e sem qualquer tradução para Inglês e depois auxilia-me na comunicações com a senhora da caixa. Troco o dinheiro e logo se oferece para me levar a Teerão. Falamos sobre as vantagens ou não de apanhar um taxi normal e no final lá venceu. Seguimos para o parque e para o seu carro pessoal.

Mehdi trabalha no aeroporto e costuma transportar turistas para a cidade no final dos seus turnos de modo a poder ganhar algum dinheiro extra e ter uma ajuda para as despesas do transporte. É bastante simpático e temos tempo para uma boa e animada conversa no caminho para o centro da cidade que dista uns bons 50Km.

À medida que nos aproximamos do centro o trânsito vai ficando cada vez mais caótico. 4 faixas de rodagem que funcionam como 6, prioridades aos mais destemidos e uma infinidade de regras que não consegui perceber. Mehdi pergunta-me o porquê da minha ida ao Irão e se já conhecia os países da região. Fala-me do seu país, da cidade, de futebol e de Fátima. Conta-me que uns dias antes tinha visto um programa sobre a cidade portuguesa de Fátima, nome da filha do profeta Maomé e como era incrível o facto de Fátima, filha de Maomé ter aparecido tanto tempo depois em Portugal para dar uma mensagem àqueles meninos. Fátima disse-lhes que tinham de contar na sua aldeia que a tinham visto caso contrário morreriam, o que acabou por acontecer...

Quase 2h depois, chegamos ao meu hotel, bem no coração da cidade.

Teerão, capital do Irão é uma metrópole que conta com quase 9 milhões habitantes e que ascendem aos 16 milhões se considerarmos toda a área metropolitana. É uma cidade imensa, não é bonita e sofre de graves problemas de trânsito e poluição, que dão todo aquele aspecto sujo aos edifícios.

Ainda assim, não deixa de ser uma cidade interessante com toda aquela vivência e energia e muito rica em termos culturais.

A primeira impressão que nos passa é que Teerão é ainda uma cidade muito tradicional, com os seus mercados e toda uma diversidade de lojas de rua que já começam a não ser muito comuns nos dias que correm. Pequenas papelarias, lojas de carimbos e medalhas, máquinas de escrever, ferragens, tecidos, etc. Pelo meio vamos encontrando pequenos cafés e restaurantes de fast-food Iraniano. Nas ruas, um trânsito caótico e barulhento e muitas vezes os passeios têm de ser partilhados com as motos, carros de mão e vendedores ambulantes.

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O primeiro dia em Teerão começa com uma visita à zona mais a sul onde estão concentrados alguns dos pontos mais interessantes. Dista apenas alguns Kms e nada melhor que uma caminhada pela Ferdosi St até lá.

Começo pelo Bazaar e pelo seu emaranhado de ruas apertadas repletas de comercio típico deste tipo de estruturas. É um mercado muito tradicional mas que no fundo não difere muito de outros mercados do género que já visitei.

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A grande vantagem deste Bazaar e um pouco à semelhança do que se passa no resto do país, é que os vendedores não nos estão constantemente a abordar para vender todo o tipo de produtos. Apenas nos consultam quando vêem que temos interesse em algum produto.

A azáfama estende-se ao exterior do Bazaar e nas ruas circundantes há também uma infinidade de lojas e vendores ambulantes.

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Junto ao Bazaar fica também uma das mais conhecidas e frequentadas Mesquitas de Teerão, a Mesquita Imam Khomeini. Este templo, semelhante aos restantes contém um páteo central com um pequeno lago no meio, e é ladeado por vário edifícios de suporte, o edifício principal num dos topos e o da entrada no topo oposto.

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Não muito distante fica o palácio de Golestan, que na realidade é um complexo de edifícios em volta de um jardim muito bem cuidado. Os edifícios, cada um com o seu propósito são bastante interessantes, com aquitecturas distintas resultantes das várias fases de construção e, nalguns casos, ispirados em palácios europeus com ideias trazidas por Nasser al-Din Shah.

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No regresso uma passagem pelo belíssimo parque e-Shahr e almoço num dos mais típicos restaurantes da cidade, o Sofreh Khane Sonnati Sangalag.

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Uma das particularidades da cidade de Teerão, é que se encontra colada à cordilheira de montanhas Alborz, uma extensa cadeia de montanhas que ultrapassa em muitos pontos os 4000m. Toda a cidade tem como pano de fundo esta parede de montanhas e os seus picos cobertos de neve, num cenário muiro parecido com Santiago do Chile e os Andes.

Este facto faz com que a zona norte, no sopé das montanhas e de terreno um pouco mais acidentado, esteja a uma altitude um pouco mais elevada que o resto da cidade e lhe proporcione uma vista panorâmica muito interessante sobre toda Teerão. É também aqui que vive toda a classe média/alta Iraniana e onde podem ser encontrada uma infinidade de condomínios e edifícios bastante mais bonitos que os que se encontram no centro. É também uma uma zona com muito mais vida, mais restaurantes, cafés e espaços de lazer e diversão.

É aqui, e já na encosta da montanha que fica o lindíssimo parque Jamshidiyeh, um dos refúgios das pessoas de Teerão, que aqui acorrem em busca de alguma tranquilidade e acima de tudo de algum ar puro, fora do intenso smog que muitas vezes cobre toda a cidade. Essa foi uma das razões que me levou ao parque, pois ao 3º dia em Teerão já sentia o nariz a inflamar...

A melhor forma de chegar ao extremo norte da cidade é através do metro que nos deixa em Tajrish, na zona alta. A caminho do metro foi possível visitar ainda a Catedral Sarkis, cujo interesse não é tanto pela sua arquitectura mas sim por se tratar de uma catedral cristã no coração de uma república islâmica.

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O metro de Teerão é relativamente recente e é um sistema bastante moderno, eficiente e confortável. Isto contrasta com o que se passa à superfície o que faz com o que o metro seja sempre a melhor opção e esteja praticamente lotado durante a quase totalidade do seu horário de funcionamento. Entro na estação de Haft-e-Tir, compro um bilhete de ida e volta e lá vou eu com destino a Tajrish.

Ainda que a circulação se faça com muito mais facilidade, dentro das carruagens do metro o reboliço é o mesmo da rua. Vendedores ambulantes passam frequentemente e serpenteiam pelo meio dos passageiros a vender de tudo um pouco. Isqueiros, meias, mochilas, pastilhas, bolachas, capas de telemóvel, cabos, chinelos, brinquedos, tudo, tudo, tudo...

Já a meio da viagem reparo na hora do relógio do metro. Olho para o meu relógio e marca 1h a menos... Fico confuso! É verdade que estou de férias e até aqui não tinha precisado de cumprir qualquer horário, mas será que andei 3 dias a seguir a hora errada? Olho para o telemóvel do senhor do lado... Marca o mesmo que o meu, e é mesmo o relógio do metro que está mal...

Do metro de Tajsrish até ao parque são cerca de 4Km e com uma inclinação algo acentuada. Opto por ir de taxi até lá e voltar a pé que é mais fácil e assim conhecer também a zona.

Jamshidiyeh é de facto um parque muito bonito e agradável e vale muito pelo ar puro que nele se respira. É conhecido também por ter vistas fantásticas sobre a cidade nos dias de tempo mais limpo, mas infelizmente, com o smog que paira sobre ela nem consigo ver os prédios mais próximos. Apenas uma nuvem castanha se consegue observar lá em baixo.

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O dia está lindo e é de facto um prazer poder usufruir do parque e dos seus trilhos na sua plenitude. No final, mais uma caminhada de regresso à malha urbana e... Ao trânsito!

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Um dos dias passados em Teerão foi dedicado inteiramente à cultura e começou com uma visita ao Museu de Arte Contemporânea. O museu não é muito grande mas é interessante não só pelas obras que tem mas também pelo próprio edifício que no interior é bastante singular. Eu tive a sorte ainda de ser presenteado com uma exposição temporária de uma artista Iraniana Farideh Lashai.

Farideh nasceu em 1944 e foi pintora, escritora, tradutora e ainda se dedicou à criação de peças em cerâmica e em vidro. Faleceu em 2013 e foi uma daquelas pessoas com um talento incrível e que se destacou fortemente nas várias áreas a que se dedicou. A exposição é lindíssima e uma das melhores que já visitei.

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No Parque Honar Mandan fica outro dos grandes polos culturais Iranianos, a Casa dos Artistas. Este edifício emblemático alberga oito galerias, vários espaços comerciais ligados às artes e ainda um restaurante e um lindíssimo café. No parque e na zona em redor estão expostas várias obras também de grande interesse.

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O último passeio em Teerão foi dedicado de novo à parte norte e à zona de Darband. Darband é um grande parque com vários museus e palácios na encosta das Alborz e estende-se ao interior da montanha por um vale também ele bastante procurado pelas gentes da cidade que aqui procuram alguma tranquilidade e ar puro.

Aproveitando o feriado religioso em que na cidade está praticamente tudo fechado, apanho de novo o metro até Tajrish e inicio a minha subida de alguns Kms até ao parque. O dia está bastante frio e na zona ainda existem bastantes resquícios de neve do nevão que caíu há alguns dias. Ao chegar à entrada do parque dou com o portão principal fechado. Pergunto ao guarda que me diz que que neste dia não abre por causa do feriado...

De modo a não desperdiçar o passeio até ali decido continuar pela estrada que dá acesso ao vale e ao trilho que entra na montanha. Alguns Kms mais acima a estrada acaba, no acesso ao teleférico que liga a cidade às estâncias de ski, mas segue o trilho que nos leva a Pas-e-Qaleh através de um lindíssimo vale. O trilho, acompanhado por um riacho, está ladeado de cafés, restaurantes e lojas de doces. Este é de facto um local muito frenquentado e a multidão é grande.

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O trilho vai serpenteando pelo meio dos pequenos edifícios, cruza e descruza o riacho, sobe escadas e mais escadas, contorna rochedos e parece não ter fim. Cruzo-me com todo o tipo de pessoas, desde os montanhistas altamente equipados aos casais de namorados com roupa de fim-de-semana... À medida que vou progredindo o número de pessoas também vai diminuindo tal como a temperatura que se sente a baixar. A neve aumenta e a paisagem começa gradulamente a passar do verde ao branco. As condições do trilho também se começam a degradar, com mais lama e gelo, e muitas vezes com o piso em muito mau estado.

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Subi até atingir Pas-e-Qaleh, que já está nos 2000m. O piso fica então impossível, com muito gelo e sem aderência. As minhas botas de caminhada não parecem preparadas para o gelo e depois de assistir a várias quedas ao meu lado decidi voltar para trás.

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Mais algums Kms até Tajrish e o regresso ao centro de Teerão.

 

Kashan

Depois de alguns dias em Teerão decido então partir à descoberta das restantes cidades Iranianas, num trajecto que já havia estudado anteriormente. A primeira cidade é Kashan, a cerca de 200Km e 3h30 de autocarro.

A grande maioria dos autocarros com destino ao sul saem do terminal e-Jonub, no sul de Teerão. A melhor forma de chegar ao terminal é de metro o que, tendo em conta que ia viajar com uma mochila enorme às costas, pode ser um problema nas horas de ponta em que o metro circula apinhado. Assim, decido ir um pouco mais tarde e aproveitar o tempo para descansar e tomar um bom pequeno almoço mais descontraído. Faço check-out e por volta das 10h30 da manhã lá vou eu de encontro à estação de metro Taleqani. Um dos grandes problemas de cidades com esta dimensão, é que mesmo fora das horas de ponta, continua a ser hora de ponta, e o metro continuava bastante cheio. Valeu a grande simpatia dos Iranianos que prontamente me abriram a passagem e se apertaram mais para abrir um espaço para mim e para a minha mochila.

Um longo mas arejado tunel liga a estação de metro ao grande terminal circular de autocarros e-Jonub. A toda a volta do edifício várias dezenas de autocarros coloridos estão em preparação para a partida e rodeiam-se daquela grande agitação característica destes locais. Motoristas que chamam pelos seus passageiros, vendedores ambulantes que entram e saem dos autocarros, passageiros que procuram o seu devido transporte...

Subo ao primeiro piso em busca da bilheteira da companhia que gere a linha até Kashan. Dificuldade número 1, tudo está escrito em Farsi e fico sem saber para onde ir. Decido perguntar e muito prontamente me indicam o número da bilheteira. No Irão, todos sempre prontamente dispostos a ajudar.

Já no balcão, peço o meu bilhete e indicam-me que pague no caixa, um senhor que estava ao fundo e no topo direito do mesmo. Estava bastante ocupado e ao telefone e fico a aguardar. De repente alguém me puxa e começar a chamar: "Sir, come!". Corremos os dois escadas abaixo e entrega-me ao motorista de um dos autocarros que estava mesmo para partir. Deixo a mochila em baixo, entro, e sento-me onde me indicam. Quanto ao bilhete, deve ser cobrado depois já lá dentro.

A política de atribuição de lugares nos transportes no Irão obedece a algumas regras de modo a não juntar mulheres com homens desconhecidos. Depois de já ter reparado que o metro possui carruagens exclusivas para mulheres, ainda que elas possam livremente circular nas restantes, no autocarro foram necessários alguns ajustes para que eu me pudesse sentar. Cada fila de lugares no autocarro possuía três bancos, dois de um lado e um do outro, sendo que o único lugar livre estava no lado que tinha dois lugares e ao lado de uma senhora. O ajudante do motorista imediatamente troca um rapaz que estava sentado sozinho para onde estava a senhora e senta-me ao lado dele. A senhora pode assim seguir sozinha também no lugar que era do rapaz.

Tudo arranjado e instalado e seguimos viagem. Cerca de 3 horas depois, chegamos a Kashan.

O autocarro tem normalmente duas paragens em Kashan, a primeira em Montazeri Sq e a segunda em Valiasr Sq. Desconhecendo qual das duas seria a melhor, saio na primeira paragem e tento perguntar ao rapaz que me tinha ajudado com o lugar se seria aquela a melhor. Ele ao ver-me sair vem logo ter comigo e empurra-me de novo para dentro do autocarro, dizendo que era na próxima. Estranho, pois ele não fazia ideia para que zona da cidade eu pretendia ir, mas decidi confiar.

Na saída seguinte, lá vem prontamente o rapaz para me encaminhar. Dá-me a minha bagagem e entrega-me a um motorista de táxi que percebo que devia ser conhecido dele. Aí percebo o porquê da preferência na paragem... Motorista simpático, arruma a mochila na mala e seguimos. Já em andamento pergunta-me qual o hotel destino num inglês bastante básico e sempre com um sorriso simpático. Respondo e ele prontamente entende qual é. Na realidade em Kashan não existem muitos hotéis e é fácil descobrir qual o destino.

Ainda não tínhamos feito mais de umas centenas de metros, quando o motorista, ao mesmo tempo que puxa de um cigarro me pergunta: _ Iran good? _ Resposta: _ Iran very good! Sorri e pergunta-me sobre a minha origem. _ Portugal good? Iran people good?

A cidade de Kashan, localizada numa das extremidades do deserto Dash-e-Kavir é uma cidade bastante encantadora e interessante. É conhecida pela sua arquitectura e pelas suas casas tradicionais, pela atmosfera envolvente do seu Bazaar e por ter cativado ao longo dos anos um sem número de personalidades Iranianas.

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As casas tradicionais Iranianas estendem-se sempre ao redor de um grande pátio central, sempre com um lago no meio, e distinguem-se pelo facto de que todas as divisões dão directamente para este pátio e não possuem janelas ou portas para o exterior, com a excepção da entrada principal. Em muitas das cidades Iranianas estes edifícios estão a ser convertidos em hotéis e com muito sucesso. Em Kashan tive a minha primeira experiência num hotel do género.

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Bem no centro fica a mesquita Masjed-e Agha Bozorg famosa pelo seu design simétrico, pelo seu pátio desnivelado e tectos trabalhados. Diz-se que a porta principal tem tantos pregos quantos versos tem o Alcorão.

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É comum no Irão, e em especial em Kashan, as portas da rua das casas terem dois batentes. Um mais arredondado e volumoso, e outro mais longo e fino, de modo a produzirem sons diferentes e a identificar a pessoa que está a bater, se é homem ou mulher. Consoante um ou outro também será uma pessoa diferente a atender.

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Um pouco mais a sul do centro histórico, está localizada uma estrutura que logo me despertou interesse. Trata-se da antiga muralha que cercava a cidade, e que num dos extremos forma mesmo um circulo perfeito. A muralha está a ser recuperada mas ainda está bastante degradada. O interior do círculo, cujo acesso é feito apenas por uma entrada, está a ser usado para agricultura, talvez por estar protegido dos ventos secos do deserto. Junto à muralha existe ainda uma antiga cisterna também ela bastante degradada.

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O histórico Bazaar de Kashan é um dos mais interessantes no Irão. Longe daqueles Bazaars imensos e labirínticos, o de Kashan apresenta o tamanho ideal para ser bem explorado e é bastante rico em termos históricos. As suas abóbadas  e cúpulas devidamente trabalhadas datam do séc. XIX, mas Kashan tem sido um centro de comércio há perto de 800 anos. Por entre ruas, becos e ruelas encontram-se mesquitas, caravançarais (antigas pousadas para albergar viajantes, muito populares no médio oriente), Madrasehs (espécie de seminários) e Hammams (banhos públicos).

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Está também longe de ser caótico o que nos permite usufruir e sentir todos os espaços de uma forma muito mais intensa. É um Bazaar também com muito pouco contacto com turistas e somos portanto bastante acarinhados por todos os comerciantes, que várias vezes meteram conversa comigo por ser forasteiro. Repetidamente a mesma preocupação, se estava a gostar e qual a minha opinião sobre o Irão.

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Nas portas da cidade fica um dos mais antigos e ricos espaços arqueológicos do país, Tappeh-ye Seyalk. Nele foram encontrados achados em porcelana, metal, osso e pedra e os mais antigos pensa-se que possam ser de 4000 ac. Escavações revelam também ruínas de um antigo tempo e vários edifícios, que dada a forma como eram construídos hoje parecem apenas pequenos montes de terra.

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Na ultima noite decido experimentar o tradicional Abbasi Teahouse & Restaurant, numa das tradicionais casas de Kashan. O Abbasi é um lindíssimo restaurante que aproveita todo o pátio da casa e cujos espaços de refeição estão distribuídos em volta de um pequeno lago com um chafariz. Os espaços são pequenas plataformas cobertas com os tradicionais tapetes persas e algumas almofadas e onde as famílias e/ou amigos se reúnem para tomar as refeições ou apenas chá. É tradicional comer-se no chão e como tal os pratos são colocados no próprio tapete.

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Eu, ainda muito pouco habituado a essa posição para as refeições, optei por uma das muitos poucas mesas que existiam no restaurante. Seguindo a sugestão do empregado, provei o Shevid chelov com goosht loobia, uma espécie de caldo com feijão e borrego acompanhado de arroz com ervas aromáticas e açafrão e também uma pequena salada com folhas de menta.

Durante o tempo de espera pelos pratos, o empregado curioso, volta e pergunta-me de onde sou. Sou na verdade o único estrangeiro ali o que se nota também pelo facto de ser a única pessoa instalada numa mesa.

Já havia notado que é habitual alguns restaurantes terem um espaço com várias bandeiras de vários países e este era um deles. Depois de saber a minha origem, não demorou 1 minuto até aparecer o empregado todo sorridente com a bandeira de Portugal.

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Muito bom o restaurante e o meu prato muito delicioso mesmo, tendo-se tratado de uma muito boa opção. No final pago, não me aceitam a gorjeta e ainda me oferecem um presente, um quadro do restaurante e um folheto com a história do local.

Finda a visita a Kashan, o plano era de seguir para Esfahan mas com uma paragem em Abyaneh, uma típica aldeia que se encontra a cerca de 80Km de Kashan. O problema é que não existem transportes regulares e bons para Abyaneh o que tornaria a visita complicada e demorada. A solução passaria por ir de táxi mas neste caso tornar-se-ia bastante dispendiosa, cerca de 10 vezes mais que o autocarro de Kashan a Esfahan.

Durante a estadia em Kashan fui abordado por um senhor que tinha uma agência de circuitos turísticos e que na altura me entregou um cartão com os contactos e alguns trajectos. Meto a mão ao bolso e ainda tinha o cartão... Ao virá-lo descubro que fazem este trajecto e decido contactá-lo. Explico que quero ir de Kashan a Esfahan e parar umas horas no meio em Abyaneh. Responde-me que é possível, que me leva no carro dele, um bom carro e que me faz um desconto. 40€ o total, com mais de 250 Km e ainda esperava por mim em Abyaneh. Perfeito!

No dia seguinte, levanto-me cedo, e tomo o meu pequeno almoço típico, composto por com chá, pão Lavash, compotas e queijo. Repito a dose de Lavash... É provavelmente dos melhores pães que já comi.

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Findo o pequeno almoço, sigo para o ponto de encontro com o senhor da agência.

O senhor já estava à minha espera e diz-me que não pode ser ele a levar-me mas que não há problema, que vou com a irmã. Metemos a mochila no carro e seguimos até à casa da minha nova motorista para a apanhar.

Saem a irmã do senhor da agência com a filha, a pequena Fátima, e a mãe. Pergunta-me se não há problema de levar a filha e a mãe. Claro que não, respondo, pois reconheço que não é fácil fazer depois a viagem de regresso sozinha. E na realidade, saí a ganhar... Bem bonita a minha nova motorista...

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Deixamos a cidade e rumamos a sul. À saída, várias placas começam a indicar a auto-estrada que segue com direcção a Esfahan e por onde devíamos seguir. Passamos o acesso e não entramos na auto-estrada. Seguimos pela mesma estrada, apanhamos uma estrada secundária, e quilómetros mais à frente saímos para uma ainda mais estreita e em piores condições. Andamos um pouco, passamos por baixo da autoestrada, invertemos, apanhamos um atalho de terra batida, e entramos na auto-estrada. Assim evitámos a portagem!

A viagem decorre de forma bastante tranquila, sem trânsito. É sexta-feira, o equivalente ao domingo europeu e tanto na cidade como fora há bastante menos trânsito. Viajamos deserto fora, numa paisagem árida e monótona. Uma cordilheira de montanhas, acompanha-nos no nosso lado direito e algumas com os picos cobertos de neve. Fátima vai alternando entre os jogos no tablet, as brincadeiras com a mãe, a avó e até comigo. A mãe vai-se desculpando mas não há qualquer problema.

De repente, no meio de nada surge um enorme complexo. "Athomic", diz-me a minha motorista ao mesmo tempo que aponta. Trata-se de uma central de enriquecimento de urânio, uma das que tanta polémica criou há alguns anos. Entre a estrada e o complexo estão alguns montes de terra estrategicamente colocados para impedir os olhares curiosos. É então que saímos para a estrada secundária que nos vai levar a Abyaneh e que dá também acesso à central. Passamos na entrada e repado no enorme aparato militar, com postos de vigia, abrigos, mísseis e anti-mísseis...

Começamos a entrar nas montanhas e seguimos por um vale também ele bastante seco. Passados alguns momentos chegamos a Hanjan, uma pequena aldeia conhecida pelas ruínas do seu antigo castelo .

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A estrada vai serpenteando por entre vales e penhascos e a pouco e pouco vamos subindo a montanha. Apesar do dia de sol a temperatura vai baixando gradualmente e começamos a ver aqui e ali, nas zonas de sombra alguma neve que ainda resiste. Não tardou muito a chegarmos a Abyaneh.

 

Abyaneh

Caracterizada pelo seu tom avermelhado, a aldeia de Abyaneh é uma das mais antigas e típicas do Irão e atrai um grande número de turistas nacionais e estrageiros. As suas ruas apertadas e irregulares, a arquitectura tradicional e as vestes das duas gentes fazem desta, uma das mais especiais aldeias que conheci.

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Estacionamos na entrada da aldeia e parto a pé à descoberta. Nada como me perder no meio daquele casario e ir explorando...

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Passo cerca de 2 horas na aldeia, mas sabe a pouco. A muito pouco... Apetece ficar ali, pernoitar, uns dias. Apetece sentir mais, contactar mais com aquelas pessoas, explorar mais, ali e à volta daquela natureza. Desta vez não vai ser possível, na próxima será...

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À saída fazemos algumas compras de alguns produtos típicos e partimos com destino a Esfahan. Voltamos pela mesma estrada na montanha e já em baixo seguimos desta vez pela estrada nacional até Natanz onde voltamos a apanhar a auto-estrada.

Ainda em Natanz fazemos uma pequena paragem e a avó de Fátima sai para lavar algumas frutas e legumes que tinha comprado. Já durante a viagem oeferece-me um pepino já descascado e um diospiro. Já tinha alguma fome sim, e souberam-me muito bem.

A viagem até Esfahan durou pouco mais de duas horas. Deixam-me mesmo no centro da cidade e junto ao meu hotel. Agradeço e despeço-me desta família que neste dia também foi minha.

 

Esfahan

Principal destino turístico do país, Esfahan chegou a ser uma das maiores cidades do mundo, tendo sido até capital da Pérsia por duas vezes. Ainda hoje são muitos os sinais da sua glória, através das suas boulevards ladeadas de árvores, pontes cobertas, palácios, jardins persas, mesquitas e minaretes, todos eles ricos em arquitectura islâmica. Toda esta grandiosidade levou à criação de um proverbio persa muito conhecido, "Esfahān nesf-e- jahān ast" ou Esfahan é metade do mundo.

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Naqsh-e Jahan significa o Padrão do Mundo e é o nome da principal praça de Esfahan e onde se localizam alguns dos principais monumentos. Começo a minha visita pelo extremo norte da praça e pela principal porta de acesso ao Bazaar, Qeysarieh Portal.

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O histórico Bazar-e Bozorg, o grande bazaar de Esfahan é um dos mais fascinantes do Irão e liga a grande praça de Naqsh-e Jahan à mesquita Masjed-e Jameh, 1.7 Km mais a norte. Possui dezenas de entradas e uma grandeza arquitectónica bastante grande. Ainda que grande parte do bazaar seja mais recente, algumas das partes mais antigas e em especial nas imediações da mesquita têm mais de mil anos.

Começo pelo mercado das especiarias, sempre o meu preferido, e deixo-me ir naquele misto de cheiros, cor e confusão. Os bazaars são sempre locais de grandes sensações e grande agitação.

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A entrada para a mesquita Masjed-e Jameh aparece disfarçada no meio do bazaar. Passo por ela sem perceber e sigo. Mais à frente apercebo-me que já andei demasiado e tento por um outro caminho. Dou de caras com as traseiras da mesquita e com uma entrada encerrada. Contorno, entro de novo na rua principal do bazaar e volto a passar pela mesma entrada. Desta vez já não me engano, só pode ser ali...

Masjed-e Jameh é um grande complexo que contém mais de 800 anos de design e arquitectura islâmica. É considerada a maior mesquita do Irão e deslumbra pela sua elegância geométrica, pela grandeza e diversidade dos espaços.

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É tempo de voltar à grande e luminosa praça Naqsh-e Jahan. Sigo através da Majlesi St, atravesso a grande praça Ghiyam e entro na Moshir Alley. Do lado direito o minarete mais alto da cidade, na Mesquita Ali. Do lado direito, a Mesquita Haroonieh. Um pouco mais à frente volto a entrar no bazaar e alguns minutos depois estou de regresso a Naqsh-e Jahan.

Do lado nascente da praça fica a lindíssima Masjed-e Sheikh Lotfollah, uma importante mesquita caracterizada pelos seus reluzentes azulejos em tons de azul e com designs perfeitamente simétricos. A sua lindíssima entrada e a sua cúpula abrilhantam toda a praça com as suas tonalidades e padrões.

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No topo sul fica a cereja no topo do bolo, a impressionante Masjed-e Shah com o seu imponente portal elegantemente decorado com azulejos e padrões de uma harmonia sem igual. É o monumento mais fotografado do Irão e é fácil perceber porquê. A grandeza, a beleza e a magia deixam-nos completamente extasiados.

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O interior é composto por um grande pátio central, com um grande lago e ladeado de santuários e Madrasehs, pequenas escolas para o estudo do Islão. Todos eles estão ricamente decorados com destaque para o santuário principal, que dada a sua imponência nos impressiona verdadeiramente. Padrões florais preenchem por completo todos os espaços e como que nos deixam sem ar com tamanha beleza. A principal cúpula é uma verdadeira obra-prima.

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Um pouco mais discreto é o palácio Kakh-e Ali Qapu localizado no lado poente da praça. Este enorme palácio de seis andares serviu de residência a Shah Abbas no séc XVI e tem como ponto alto uma grande varanda com 18 elegantes colunas sobre a praça e de onde se pode obter uma bonita vista sobre a mesma.

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A praça Naqsh-e Jahan, pelas suas características e beleza é um dos principais pontos de encontro das gentes de Esfahan que aqui se juntam para conviver, descansar e aproveitar o tempo livre, em especial ao fim do dia. É também o local ideal para o contacto com os locais e para absover muito da cultura da cidade. Sentei-me num banco para observar e captar aqueles momentos. Um senhor percebe que o estou a fotografar e à biclicleta dele. Sorri, mete-se em pose para mais algumas fotografias e senta-se ao meu lado. Não fala inglês mas conseguimos uma pequena conversa. Tira da algibeira uma maçã e um canivete, divide a maçã ao meio e oferece-me metade. Ficamos ali os dois a deliciarmo-nos com a maçã e com o ambiente da praça. No final, aquela despedida...

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Não muito longe fica o palácio Khak-e Chehel Sotun, um elegante palácio rodeado de um lindíssimo jardim ao estilo persa. O acesso ao palácio é feito através de um elegante terraço que faz a ponte entre os jardins e o seu esplendido interior, e que possui 20 colunas devidamente trabalhadas. O grande hall do palácio está decorado com vários e belos frescos que representam vários pontos da história.

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Bem no coração de Esfahan fica o parque Shahid Rajai, um grande parque verde muito utilizado para o lazer em especial pelas pessoas de mais idade, que aqui se juntam para jogar e confraternizar. No centro do parque e envolto em tranquilidade fica o palácio Hasht Behesht, com as suas características colunas em madeira e as suas varandas abertas a toda a volta.

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Bastante interessantes também são as pontes históricas de Esfahan, verdadeiros monumentos e de arquitectura bastante singular. Comecei por Pol-e(ponte) Khaju, que com os seus 110 m funciona também como uma pequena barragem no rio Zayandeh. É também um dos locais mais procurados para o lazer na cidade, pela sua enorme escadaria, pela luz e pelo som da água a passar, bastante relaxante.

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Cerca de 500 m a oeste fica a Pol-e Chubi, com os seus 21 arcos e 150m de comprimento. É uma ponte mais modesta e foi construída numa vertente mais funcional.

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A maior e mais conhecida, pelo seu tamanho, localização e por ser a mais antiga, é Pol-e Si-o-Seh, com 33 arcos distribuídos ao lonfo dos seus 298m de comprimento. É também ela muito bonita e por ser um prolongamento da muito conhecida e concorrida avenida Abbasi torna-se na principal união entre as duas margens do Zayandeh.

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Aproveitando a visita às pontes, atravesso o rio para visitar o bairro Arménio de Esfahan, o Jolfa. Na realidade Jolfa é o nome da cidade origem desta comunidade de Arménios no norte do Irão e que aqui foram realojados em massa por Shah Abbas I, ao saber das suas enormes qualidades como comerciantes, artesãos, empreendedores e artistas. Shah Abbas I reconhecia-lhes grandes capacidades e pretendia assim uma preciosa ajuda para a construção da grande capital Esfahan.

Jolfa é ainda hoje um bairro das elites e isso é visível logo à chegada, pelo tipo de comércio, pelos cafés e restaurantes bastante mais refinados e até pelo próprio estilo dos edifícios. Cheguei ainda cedo e depois de um passeio pelo bairro dirigi-me ao seu principal ponto turístico, a catedral Kelisa-ye Vank. A catedral está localizada numa estreita mas muito interessante rua, repleta de pequenos e acolhedores cafés, lojas de artesanato, livrarias e galerias de arte.

Vista de fora, a catedral é bastante simples e discreta, mas o seu interior está ricamente decorado numa mistura de arte Islâmica e Cristã e está ainda adornada com uns lindíssimos frescos que levaram mais de 15 anos a ser acabados.

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Terminada a visita ao bairro Arménio estavam cumpridos os objectivos da visita a Esfahan. Tempo agora para preparar a viagem para o próximo destino e para alguns passeios mais descontraídos pela cidade.

Como apaixonado pelo deserto que sou, não poderia vir ao Irão sem fazer uma incursão pelo grande Dasht-e Kavir, um dos dois grandes desertos que dominam a paisagem Iraniana. Planeei assim uma estadia de duas noites em Garmeh, uma aldeia oásis perdida no interior deste gigante árido. Não existem transportes para lá, pelo que teria de apanhar um autocarro até Khoor, uma pequena vila a 30 Km de Garmeh e uma vez lá, tentar encontrar forma de chegar ao meu destino.

O autocarro para Khoor parte de Esfaham à 1h da tarde, o que me dá algum espaço para iniciar o meu dia e a viagem com calma. Tomo um pequeno almoço reforçado, troco alguns euros para rials, check-out, chamo um táxi e lá vou eu.

O taxista era um senhor velhote, ex-professor que agora conduzia táxis para poder ganhar algum dinheiro. Pergunta-me para onde quero ir, e respondo que para Kave, o grande terminal de autocarros de Esfahan, para apanhar o autocarro para Khoor. O senhor fica admirado e diz-me que os autocarros para Khoor não saem de Kave. Eu fico baralhado e digo-lhe que foi o que li. Ele insiste em ir para outro terminal, mas eu prefiro jogar pelo seguro e digo-lhe que vá para Kave, e no caso de não ser, como temos tempo podemos seguir para o outro. O senhor não fica convencido e começa a fazer telefonemas... Percebo que está a confirmar a origem dos autocarros, mas parece que ninguém sabe ao certo. Vamos mesmo para Kave...

O grande terminal de Kave possui várias áreas de embarque, com várias companhias e sem qualquer tipo de informação em inglês. Pergunto num balcão de informações e indicam-me a área correcta e o balcão da companhia que viaja para Khoor. Já no balcão, confirmo que estou no sítio certo e peço o meu bilhete. O senhor educadamente pede-me alguns dados pessoais para introduzir no sistema, recebe o dinheiro e imprime o meu bilhete. Sublinha o número da linha e a hora mas... Está tudo em Farsi. Ao ver a minha cara, apercebe-se do problema e escreve o número da forma que eu percebo, 17.

O relógio marca ainda 11h30 e tenho de esperar cerca de hora e meia. Passeio pelo terminal, visito algumas lojas e ainda me sobra tempo para o almoço. Nada como um tradicional Kebab de frango.

10 minutos antes da partida dirijo-me então para a linha 17. Várias pessoas estão agrupadas nas imediações das várias linhas, outras sentadas ao redor. Olham para mim com ar de surpresa. Não é comum haverem estrangeiros aqui. Olho para o moderno autocarro amarelo estacionado na linha e fico contente, pois parece bastante bom e confortável. Confirmo com um rapaz que está na entrada do autocarro se aquele é o que vai para Khoor e ele acena-me que não. Surpreso, digo-lhe que me indicaram aquela linha e ele, constrangido por não saber inglês e não me conseguir explicar chama-me e leva-me a outro autocarro, na linha 22.

Olho para o autocarro na linha 22 e digo para mim mesmo: _Não pode ser! _ Confirmo com outro rapaz vai entrando e saíndo deste autocarro e colocando algumas bagagens em baixo, e ele confirma. A viagem são 7 horas, e não há-de ser nada...

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O rapaz chama-me e contorna o autocarro. Sigo-o e abre uma das portas para que meta a minha mochila. Já passa da hora e não há quaisquer sinais de partirmos entretanto.

Cerca de meia hora depois chega então um senhor, bem vestido e com muito bom ar. O rapaz começa a chamar toda a gente e vai sentando um a um no autocarro, seguindo as regras habituais. O senhor, o motorista, entra, faz os ultimos preparativos e partimos.

Deixamos Esfahan para trás e o deserto toma conta de nós. Mergulhamos naquela imensidão árida cuja monotonia apenas é interrompida de tempos a tempo por uma qualquer aldeia que por ali se perdeu, ou por uma ou outra montanha que parece ali ter sido colocada por engano. Vamos avançando, num ritmo melancólico e quase à mesma velocidade com que o motorista e o seu ajudante devoram canecas de chá.

Algumas horas depois fazemos uma pequena pausa em Anarak, uma típica aldeia do deserto Iraniano, e junto a um pequeno café/supermercado. Saio para comprar comida e tirar algumas fotografias do deserto, já quase ao por-do-sol.

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Dentro do estabelecimento, as pessoas fazem fila para comprarem alguns snacks, enquanto que o ajudante do motorista repõe o seu stock de chá numa grande chaleira colocada à entrada. Compro também alguns snacks e uma água e minutos depois voltamos ao caminho para os 175 Kms restantes.

 

Garmeh

A noite já tinha caído por completo quando chegámos a Khoor. Paramos numa rotunda no centro da pequena vila e alguns dos passageiros começam a levantar-se, assim como eu, ao mesmo tempo que vou olhando lá para fora numa tentativa de perceber se será fácil apanhar uma táxi. Mal saio do autocarro um senhor já velhinho dirige-se a mim e como que adivinhando, diz: _Garmeh? _ Sorrio e respondo que sim. Vou buscar a mochila e ele faz-me sinal para que o siga.

Leva-me para o carro dele, estacionado ali bem perto e abre a mala para que coloque a mochila. Entramos e reparo no carro, que mesmo devendo alguns anos à sucata, parece que ainda funciona.

Reparo também no senhor, velhinho, ao mesmo tempo que avançamos lentamente por uma das ruas de Khoor. Com o cabelo totalmente branco tem ar de uma idade bastante avançada e como tal merecia já estar em casa a descansar com a família. Chegamos pouco depois a uma rotuna e viramos à esquerda, passados alguns metros viramos à direita e entramos numa estrada bastante estreita. Num instante somos absorvidos pela escuridão do deserto.

As fraquinhas luzes do carro iluminam poucos metros à nossa frente. O senhor centra o carro no traço descontínuo do meio da estrada e segue em silêncio. Não fala inglês e por isso não comunica, pelo menos dessa forma. A escuridão à nossa volta é total e assutadora e é então que reparo no céu, estrelado e com uma nitidez como nunca tinha visto. Parece uma imagem tirada de um qualquer filme de ficção científica passado no espaço. Milhares e milhares de estrelas a brilhar e com uma definição incrível. Não consigo parar de olhar...

O tempo e os quilómetros vão passando, e o escuro, o silêncio, aquele céu, e a magia do deserto começam-me inexplicavelmente a trazer memórias, pensamentos, momentos... Trazem-me saudade, nostalgia, trazem-me recordações. Fazem-me pensar, fazem-me reflectir. Emocionam-me.

Quase meia hora depois, deixamos a estrada por onde circulávamos e viramos à direita. Ao fundo, algumas luzes começam a aparecer e noto que estamos a ficar perto do destino. Volto a olhar para aquele senhor, para o seu ar terno, doce e tranquilo, e naquele momento decido chamá-lo de Joaquim. Joaquim é um nome muito querido para mim, era o nome do meu avô, e era o nome de uma pessoa que foi como que um 2º pai para mim... E eu nunca lhe disse...

Chegamos, e Joaquim diz-me: _ Garmeh! _ ao mesmo tempo que entra numa pequena e apertada rua da aldeia. Pergunto-lhe pela Gesthouse onde tinha feito a reserva, Ateshooni, e ele indica com a cabeça que sim e aponta em frente.

Deixo o carro, e o nosso momento e recolho a mochila. Pergunto quanto é, e Joaquim responde 200. Dou-lhe 300 e recebo um caloroso agradecimento com um brilho especial nos olhos daquele senhor. Eu é que agradeço!

À entrada da Ateshooni um rapaz corpulento lava o caminho com uma mangueira. Cumprimenta-me com um sorriso simpático e diz-me para entrar.  Ao seu lado, Emil também se apresenta. Emil é um dinamarquês que tinha chegado um pouco antes e que estava a dar uma volta de reconhecimento. Lá dentro encontro um grupo de jovens Iranianos, já instalados e pergunto pela recepção. Indicam-me o local mas dizem que não está ninguém, que o melhor é esperar...

Ateshooni é uma espécie de Guesthouse num complexo de edifícios bem típicos destas aldeias do deserto, construídos essencialmente com lama. Foi criada por Maziar Ale Davoud, artista e músico Iraniano que depois de se saturar com o caos de Teerão se decidiu estabelecer neste oásis de onde é originária a sua família. Ateshooni fornece alojamento em quartos bem tradicionais e alimentação aos seus hóspedes com comida caseira e produtos locais, dando também emprego às gentes locais e dinamizando a economia.

Sentei-me um pouco à conversa com os jovens Iranianos, um grupo de amigos, vindos de Esfahan e que me dizem gostar muito deste refúgio que costumam procurar de tempos a tempos. A zona comum é composta por um pequeno páteo coberto e várias divisões laterais com uma decoração muito tradicional e acolhedora. Salas com os tradicionais tapetes persas onde podemos descansar, conviver e onde tomamos também as refeições. É impossível chegar e ficar indiferente perante um espaço tão encantador.

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Não tardou até aparecer um rapaz que me ajudar a instalar. Mostra-me o quarto, uma pequena divisão com o tecto em arco, apenas com uma janela minúscula e de reboco tradicional, a casa de banho, as áreas comuns e explica-me os horários das refeições. Os corredores são estreitos e acidentados, com o chão em pedra e vários desníveis e degraus. As divisões quase não possuem janelas de modo a protegerem ao máximo o interior do calor extremo que se costuma fazer sentir no deserto.

Converso com alguns hóspedes quando é servido o jantar. E que jantar... Comida típica, muito bem confeccionada e muito, mas muito saborosa. Estou deliciado, com a comida, com o espaço, o ambiente, com a companhia.

No final continuamos a conversa, muito bem instalados e enquanto degustamos um saboroso chá. Maziar, sempre simpático junta-se a nós. A sua forte presença não passa despercebida, pela sua aura, pela sua energia e pela sua partilha. Conversamos, rimos, trocamos experiências e sobretudo continuamos a viajar...

É então que Maziar se levanta e vai buscar um tambor, de características iranianas, e se senta numa das pontas da sala. Instala-se confortavelmente e começa a tocar... Um ritmo constante, melancólico e encantador envolve-nos e deixa-nos deslumbrados. Passados alguns minutos junta-lhe o Didjeridu e prende um shaker no pé. Toca os três em simulatêneo e presenteia-nos com um dos momentos musicais mais marcantes que assisti. O ritmo hipnotizante, a envolvência da melodia, a magia do lugar, aquela energia... Ficamos como que extasiados e dormentes durante os largos minutos que durou toda aquela partilha. No final, a música continua do smartphone de Maziar e nós continuamos ali, em silêncio, ainda a digerir aquele êxtase por mais de uma hora...

Garmeh é uma aldeia anexada a um lindíssimo oásis e de onde nasce uma simbiose quase perfeita no vazio deste imenso deserto. Já dizia Antoine de Saint-Exupéry, que "O que dá beleza ao deserto é que esconde um poço de água em qualquer parte", em Garmeh, uma poderosa nascente de água escondida traz vida a esta comunidade que assim consegue manter os seus campos agrícolas e os seus animais.

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Um grande número de tamareiras protege os campos do sol e dá ainda o fruto mais popular do deserto e que aqui tem um sabor divinal. São também populares as romãzeiras que vão alternando com os vários produtos hortícolas aqui produzidos.

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Decido seguir o canal da água no sentido ascendente. Zigue-zague no meio dos campos e chego às traseiras do oásis, numa área mais seca e não aproveitada. O canal continua até à nascente, e é habitado aqui por alguns peixinhos que vão subindo e descendo em busca de alimento. A nascente, uma grande cavidade no sopé de um monte está escondida atrás de uma porta. Lá dentro um pequeno lado azul-esverdeado cintila com a pouca claridade que lá consegue chegar.

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Não foi preciso muito tempo pelo oásis para perceber que as duas noites que tinha marcado na guesthouse era muito pouco. Esta magia, esta paz e o poder deste silêncio requerem mais. Aventuro-me alguns quilómetros pelo deserto adentro e rendo-me, perdido no silêncio absoluto decido ficar mais um dia.

Por volta do pôr-do-sol reúno-me com os Dinamarqueses para tirarmos algumas fotografias e para visitarmos um local que Emil tinha identificado como muito interessante para ver e fotografar o céu estrelado. O local fica no sopé da montanha e um pouco afastado da aldeia. O caminho até lá é bastante acidentado com várias escarpas resultantes da erosão da água, algumas subidas e descidas difíceis e terreno instável.

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Chegamos ao anoitecer, visitamos as ruínas de uma antiga casa e esperamos pela noite. É então que percebemos que depois, na mais total escuridão, não vai ser possível fazer aquele difícil caminho de volta. A solução será seguirmos no sentido oposto, até encontrarmos a estrada principal, e depois percorrer a estrada até à aldeia. Ao fundo, e na direcção da estrada as luzes de uma outra aldeia a cerca de 15 Km começam levemente a cintilar. Uma boa referência para sabermos a direcção que devemos tomar.

A noite chega, e as estrelas também. Os fascínio mais uma vez apodera-se de mim e quase que fico com um torcicolo de tanto olhar para cima. Apetece-me ficar ali, deitado, a olhar aquele espectáculo a noite toda...

A hora do jantar aproxima-se, e infelizmente temos de partir. Mochilas às costas, telemóveis na mão a fazer de lanterna e seguimos em direcção às ténues luzes no horizonte que tínhamos identificado. O terreno é irregular e seguimos com bastante cuidado. As lanternas improvisadas não nos dão mais do que 2m à nossa frente. Subitamente chegamos a uma arriba de um pequeno rio, totalmente seco. Não conseguimos descer e tentamos contornar. Alguns metros mais à frente outra arriba. Voltamos para trás e tentamos mais à frente. Também não conseguimos. A escuridão é total, e o facto de não conseguirmos iluminar mais do que 2m não nos permite ter uma visão mais global do terreno e avaliarmos qual poderá ser o melhor caminho e mesmo se será possível ir ou não naquela direcção. É um cenário um pouco assustador mas não nos resta outra alternativa que a da tentativa e erro.

A pouco e pouco vamos evoluindo e encontramos uma pequena arriba menos inclinada que conseguimos descer. Seguimos pelo leito seco do riacho e finalmente encontramos terreno menos acidentado. Andamos e conseguimos chegar à estrada. Como prémio, mais um excelente e delicioso jantar.

O dia seguinte começa com mais um passeio e desta vez decido explorar a zona a oeste do oásis. Uma zona árida e muito marcada pela erosão. Não tem muito interesse, pelo que volto de novo ao oásis. Exploro novos locais e observo as gentes do deserto. Sento-me na sombra de uma árvore e ali fico a descansar e a meditar. Sinto-me a esvaziar, mais leve, mais puro.

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Regresso à guesthouse para fazer a mudança. Quando tentei fazer a extensão para mais uma noite informaram-me que o edifício principal da guesthouse já não tinha quartos livres, pois iam receber um grande grupo de turistas. A única hipótese era de ir para um outro edifício que eles possuiam e que funcionava como dormitório. As condições eram inferiores, mas não tinha outra hipótese e este pequeno sacrifício seria banstante bem compensado.

Entro na guesthouse e deparo-me com uma grande agitação com gente a entrar e a saír, a percorrerem todas as salas com ar de curiosidade e até a visitarem os quartos. São turistas Iranianos que visitam a aldeia, o oásis e esta guesthouse que já possui alguma fama, tudo por causa de Maziar. Saio com a mochila às costas mais os colegas dinamarqueses que também decidiram ficar mais um dia, e já cá fora somos alvo da curiosidade dos Iranianos. Perguntam-nos de onde somos e de repente, dezenas de pessoas rodeiam-nos mortas de curiosidade ao verem estrangeiros ali. Há lugares no Irão onde o turismo é quase inexistente e a presença de estrangeiros é algo bastante exótico. Foi o que aconteceu ali e de repende todos aqueles turistas esqueceram a aldeia, o oásis, Ateshooni e tudo o resto. A verdadeira atracção éramos nós.

Sendo português a conversa voltou-se inevitavelmente para o futebol e para Carlos Queiroz, treinador da selecção Iraniana. Queiroz é uma espécie de Deus no Irão. "We love him", todos me dizem e há um respeito e uma admiração muito grande pelo treinador português. Ainda tentei explicar que em Portugal a opinião sobre ele não é a mesma, mas desisti, pois não queria desapontar tão simpáticas pessoas.

Alguns minutos depois chega o rapaz da Ateshooni para nos mostrar o dormitório e temos de os deixar...

Durante a hora de almoço decidimos visitar Arousan, uma aldeia vizinha, que imaginamos ter outro oásis. Arousan fica a cerca de 6 Km, distância que poderemos facilmente percorrer a pé. Deixamos passar a hora mais quente e com o sol mais forte e metemo-nos ao caminho. Caminhámos cerca de 1 Km quando começamos a ouvir uma mota a aproximar-se. Não demorou até que a mota, conduzida por um rapaz que não devia ter mais de 16 anos, chegasse junto a nós. O rapaz olha-nos com admiração e mesmo não falando inglês, tenta perguntar onde vamos. Tentamos explicar e a cara dele fica ainda mais admirada. Aponta na direcção de Arousan e diz que não há nada. "Nothing! Nada!" Dizemos que queremos ver e ele insiste que não há nada lá. Voltamos a insistir e o rapaz rende-se com cara de estupefacção. É então que aponta para a mota e nos oferece boleia. Somos 3, como ele 4. Olhamos uns para os outros... Porque não?!

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A viagem dura cerca de 10 minutos até à aldeia. Pedimos ao rapaz para nos deixar na entrada da vila e seguimos a pé para explorar. Agradecemos, e o rapaz segue pela rua principal... Não tardou até que aparecesse junto a nós, desta vez acompanhado de um amigo e com uma mota nova. Coloca a mota no descanso no meio da estrada e diz-nos que quer tirar uma fotografia connosco. Alinha-nos atrás da mota e pede ao amigo para apanhar a mota em grande plano, connosco atrás. Reparamos que o rapaz está em êxtase. Arousan é uma aldeia modesta e na realidade nunca deve ter visto um turista. É um lugar remoto onde nada acontece e o facto de ali aparecerem 3 turistas e algo bastante excitante para o rapaz que ainda por cima nos trouxe. Parte de novo...

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Durante o passeio pela aldeia o nosso novo amigo ainda passou mais algumas vezes por nós, cada vez com um amigo diferente. Ficámos com a impressão que estava a mostrar aos amigos todos os turistas que ele tinha trazido.

A aldeia vizinha de Garmeh, apesar da proximidade e de ser também um oásis não tinha o mesmo encanto e percebia-se o porquê de não ser visitada por turistas. Vários canais de água atravessam a aldeia e irrigam os campos de cultivo, mas com a diferença de que aqui, a nascente não era natural e a água era extraída de poços bastante profundos.

Atravessamos a aldeia e subimos uma pequena colina de onde conseguimos obter uma boa vista da aldeia e do deserto em redor, e sentamo-nos um pouco para descansar e comer umas frutas. Analiso o solo, mistura de areia e cascalho, e fico impressionado com a diversidade do tipo de rochas que consigo encontrar. No meio, encontro um pequeno seixo com sinais de erosão provocada pela água, mais à frente encontro um fóssil de uma concha.

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Findo o passeio, e já perto no anoitecer decidimos voltar a Garmeh, mas não sem antes termos um novo encontro com o nosso amigo que nos veio oferecer boleia para o nosso regresso. Agradecemos mas dizermos que não há necessidade e que nos vai saber bem fazer o regresso a pé.

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A noite abate-se sobre nós ainda a meio do caminho. Novamente o problema da falta de visibilidade, mas pelo menos agora seguimos pela estrada, bastante mais regular.

A despedida de Garmeh é feita de forma sublime, sendo a última noite passada sob o exotismo do deserto e à volta da fogueira num cenário magnífico e encantador. Mais uma interessante partilha de experiências, visões e opiniões de diferentes culturas. Mais uma noite memorável de encher a alma.

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O autocarro para Yazd, o meu próximo destino, sai de Khoor às 7h da manhã, o que me obriga a deixar Garmeh pro volta das 6h30. Ateshooni arranja-me um taxi para me levar até Khoor e combinamos às 6h30 à porta do dormitório. À hora combinada lá estou eu e nada do taxi... Espero um pouco e decido ir até ao edifício principal da Ateshooni e também não o encontro. Espero, volto ao dormitório e de novo ao edifício principal. Quando regresso já lá está e traz-me o meu pequeno almoço gentilmente preparado pela guesthouse. Eram sete e pouco quando chegamos a Khoor onde o autocarro aguarda. Compro o bilhete, espero mais alguns minutos e partimos.

Não demorou muito até começar a ficar com fome, mas estava bem precavido com este miminho da Ateshooni.

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A viagem dura cerca de 5 horas, sempre pelo meio do deserto e cercados daquela tonalidade amarela interrompida apenas aqui e ali por algumas montanhas. Teria sido tranquila não fosse uma criança, filha do casal sentado atrás de mim, andar a correr pelo corredor para trás e para a frente, parando muitas vezes na frente junto ao motorista no cimo dos degraus, e perante a indiferença dos pais. Passei grande parte da viagem em aflição, ao ver a criança ali desprotegida, mas não sabia se uma abordagem aos pais seria bem recebida. A situação só acabou quando entrámos na zona urbana de Yazd e quando uma pequena travagem levou a que o menino aterrasse de cabeça aos pés do motorista. Felizmente não se magoou muito...

 

Yazd

Situada entre os desertos de Dasht-e Kavir e Dasht-e Lut, Yazd é uma cidade de encantos. As suas labirínticas e estreitas ruas, as casas de terra e as torres de vento fazem desta cidade uma das mais interessantes do Irão. Muito conhecida pelas suas sedas, foi mesmo designada por Marco Polo como uma fina e esplêndida cidade, centro do comércio. Aqui vive também uma grande comunidade Zoroastriana.

Chego cedo à cidade e depois de fazer o check-in num bonito e tradicional hotel no coração do centro histórico ainda me sobrou algum tempo para passear. Começo pela concorrida rua Imam Khomeini até à Praça Beheshti, onde viro à esquerda para a Avenida Favardin, conhecida pela sua torre do relógio.

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Logo a seguir fica um importante templo zoroastriano, Ateshkadeh. Os zoroastrianos dão uma importância vital ao fogo, e todos os seus templos são conhecidos como templos do fogo e têm sempre chamas acesas. Em Ateshkadeh, é possível ver uma pequena fogueira que se diz estar a arder desde o ano 470.

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No regresso, uma passagem pelo complexo Amir Chakhmaq e pela sua mesquita, em preparações nesta altura para um importante evento religioso a acontecer dentro de dias.

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Mesmo ao lado fica o Saheb A Zaman Club Zurkhaneh, a versão Iraniana de um ginásio construído dentro de uma antiga cisterna construída por volta de 1580. Este tipo de ginásios são populares pelos seus exercícios bastante singulares.

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A rua Imam Khomeini é um importante ponto comercial da cidade, com pequenos comércios de ambos os lados e ainda com alguns edifícios bastante emblemáticos.

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O centro de Yazd é a famosa rua Masjed-e Jameh, onde se localiza a famosa mesquita com o mesmo nome.

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O segundo dia em Yazd começa cedo e com uma visita à elegante mesquita Masjed-e Jameh. A sua entrada forrada de azulejos é uma das mais altas do país, possuindo ainda dois minaretes de 48m de altura. O símbolo utilizado nos azulejos que cobrem esta magnífica fachada Gardoneh Mehr representa o infinito, o intemporal, o nascimento e a morte e pode ser encontrado em edifícios Iranianos desde 5000 ac.

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Termino a visita à mesquita e deixo-me perder pelas ruas de Yazd. Não há melhor forma de conhecer esta cidade que a de nos deixarmos ir neste emaranhado de ruas e ruelas e surpreender com becos e recantos perdidos neste imenso labirinto.

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Muito populares na cidade e um pouco por todo o país são as famosas torres de vento. Estas altas estruturas são semelhantes a chaminés e têm como função a de canalizarem o vento para o interior dos edifícios. Possuem normalmente quatro canais, que canalizam independentemente o vento das quatro direcções e funcionam assim qualquer que seja a direcção de onde sopra o vento. Normalmente são grandes e com amplos painéis de captação e até a mais pequena aragem consegue ser sentida no interior. Um método muito inteligente de criar um ar condicionado natural e que ajuda a suportar as altíssimas temperaturas que aqui se fazem sentir no verão.

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São também muitos comuns as cisternas para armazenamento de água, que tiveram um papel muito importante na manutenção das cidades Iranianas ao longo de séculos. Com sistemas hidráulicos sofisticadíssimos, estas cisternas eram alimentadas com água captada nas montanhas, algumas a distâncias significativas da cidade, e permitiam armazenar água suficiente para os meses mais secos. Actualmente já não são usadas mas começasm a ser utilizadas para fins turísticos.

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Na Praça Zaiee ficam dois dos edifícios históricos mais impressionantes da cidade. A prisão de Alexandre o Grande e o Túmulo dos 12 Imams. A prisão de Alexandre não funcionou na realidade como uma prisão mas sim como uma escola. Esta referência mal utilizada vem de um poema de Hafez que provavelmente não teria a melhor das opiniões sobre esta escola.

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No túmulo dos 12 Imams, um edifício cúbico localizado logo a seguir à prisão, estão escritos os nomes dos 12 Imams Xiitas que em tempos estiveram aqui sepultados, mas que foram posteriormente retirados.

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A cerca de 200m fica a interessante casa tradicional Kan-e Lari, com o seu lindíssimo páteo e uma estrutura muito bem cuidada.

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Pela sua arquitectura e a sua estrutura em geral é recomendada a visita ao topo de um qualquer edifício de modo a obter uma excelente vista e perspectiva da cidade de Yazd. O meu objectivo era o de subir ao cimo do Hosseinieh, uma fachada monumental localizada junto de uma praça, mas que estava a ser difícil de encontrar. Depois de tanto procurar decido perguntar a um rapaz que passava de bicileta. O meu novo amigo, faz-me sinal para que o siga e leva-me ao local.

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Contorno o monumento e procuro pelas escadas de acesso ao topo. Para minha desilusão estão fechadas e não é possível subir. Lembro-me então de ter passado por um café que tinha uma placa a indicar possuir um terraço com uma boa vista, não muito longe da praça Zaiee. Volto para trás e passado algum tempo consigo encontrar este simpático café. E com uma vista deslumbrante.

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A noroeste do centro histórico ficam os famosos jardins persas Bagh-e Dolat Abad, património da Unesco e que se localizam junto a um pequeno palácio que outrora serviu de residência ao governador Karim Khan Zand. O local dista poucos quilómetros do local onde estou e decido ir a pé até lá. Sigo pelas ruas principais até chegar a uma grande avenida nas traseiras dos jardins. Não existe qualquer entrada e é então que percebo que esta fica do lado oposto e tenho de entrar de novo na zona residencial.

Vou seguindo por pequenas ruas e travessas no que me parece ser o contornar do grande complexo. Entro numa zona de casas e de ruas mais apertadas e sigo a tentar descortinar o caminho. Algumas não têm saída e sou forçado a voltar para trás e tentar por outras opções. Uma senhora que se prepara para entrar em casa repara em mim e percebe que sou um turista não muito confiante do caminho que está a tomar. Sabe para onde me dirijo pois não há mais nenhum monumento na zona e muito gentilmente tenta indicar-me o caminho. Aponta para uma rua e faz sinal que ao fundo é à direira. Agradeço e sigo a indicação. Ao chegar ao fim da rua hesito e olho para trás. A senhora faz-me sinal para virar... Sorrio e continuo.

Ainda não tinha andado 100m e começo a ouvir uns passos a correr atrás de mim. Viro-me e vejo uma menina a sorrir para mim e a dizer Dolat Abad? E faz-me sinal para a seguir. Pergunto-lhe se fala inglês e diz-me que não. A menina era a filha da senhora que estava a entrar em casa e que lhe disse para me vir ajudar. 

Caminhamos mais alguns minutos por entre as casas e chegamos à entrada principal do complexo. A menina aponta como que dizendo que é aqui. Faço-lhe um sinal com o telemóvel a perguntar se podemos tirar uma fotografia. Ela aceita. Pergunto-lhe ainda como se chama, "es-me-toon chee-ye?" _ Sohrah, responde com um lindíssimo sorriso.

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O complexo possui um bonito palácio ao centro, com uma grande torre de vento de cerca de 33m, vários vitrais e uma impressionante cúpula. Os jardins, estão dispostos ao longo de um grande corredor com um lago no centro, e possuem uma grande variedade de plantas, árvores e árvores de fruto nas zonas laterais.

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Faço uma pequena pausa para descansar, para sentir mais aquele lugar tão especial e também para me dedicar um pouco à leitura. O dia foi bastante cansativo e o Bagh-e Dolat Abad é um bom local para recuperar energias. No regresso sou ainda desafiado para uma partida de Ping-Pong.

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A viagem de Yazd para Xiraz demora entre 6 e 7h e decido apanhar o autocarro ainda pela manhã. Tomo o pequeno almoço com calma, faço o check-out, e apanho um táxi para me deixar no terminal de autocarros. Não preciso esperar muito e lá vou em mais uma viagem.

 

Xiraz

Considerada como o coração da cultura Persa há mais de 2000 anos, a cidade de Xiraz é ainda hoje uma das mais autênticas cidades Iranianas. Cidade de estudantes e poetas, chegou a ser uma referência durante o período medieval Islâmico e mais tarde, em 1747, chegou até a ser considerada capital do Irão.

A minha primeira impressão sobre a cidade recaíu precisamente na sua autenticidade e na sua identidade bem mais tradicional. As ruas, o comércio e o próprio estilo da cidade diferem um pouco do que já tinha visto até aqui.

Começo o meu primeiro dia com uma visita a Bagh-e Jahan Nama, um bonito e cuidado jardim de estilo persa e sigo logo a seguir para Aramgah-e Hafez, o túmulo do grande poeta Hafez. Hafez é uma espécie de herói entre os Iranianos e o seu túmulo atrai ainda hoje um grande número de peregrinos que aqui se deslocam para recitar poesia.

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O seu túmulo em mármore possui um dos seus versos gravado e está centrado num belíssimo e charmoso jardim com dois grandes lagos na zona norte da cidade.

Descendo a Rua Hafez, encontramos a ponte da Porta de Esfan, uma antiga ponte em pedra sobre o rio Khoshk, seco nesta altura, e a seguir a Rua Bazar-e No, início da grande zona de bazaares de Xiraz.

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Os vários bazaares datam de alturas diferentes, sendo o mais conhecido o Bazaar-e Vakil. Este bazaar alberga hoje mais de 200 pequenas lojas que vendem de tudo um pouco, como carpetes, artesanato, especiarias e roupa. A sua atmosfera é rica e vibrante e consegue alguma harmonia longe da confusão de outros mercados. 

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Através de uma pequena porta tenho acesso à Mesquita Vakil, perdida no meio do bazaar e que impressiona pelo seu imponente portal.

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Atravesso o bazaar e saio na porta sul que dá acesso à grande Boulevard Lotf Ali Khan. Esta concorrida rua do centro da cidade leva-me até Bagh-e Naranjestan ou o jardim dos citrinos, que preenche o grande páteo do palácio da família de Mohammad Ali Khan, que o utilizou no séc XIX.

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A sul da Boulevard fica o grandioso complexo Aramgah-e Shah-e Cherag, que nasceu da homenagem prestada a Sayyed Mir Ahmad, um dos 17 irmãos do Imam Reza que aqui foi morto. Um mausoléu foi aqui erguido em sua honra e mais tarde vários foram os edifícios adicionados ao complexo.

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Ao entrar no complexo fui barrado por um dos guardas que me diz não poder entrar com a câmara fotográfica. Tento perguntar o que fazer e o guarda ao perceber que era estrangeiro diz-me para seguir e que estrangeiros podem utilizar as câmaras. Começo a fotografar o grande pátio central quando sou abordado por um senhor com uma faixa a dizer Ministério dos Negócios Estrangeiros e que me diz que não posso passar daquele ponto com a câmara. Digo-lhe que me deram autorização para entrar e fotografar mas ele insiste e diz que não posso passar daquele ponto a não ser acompanhado por ele. Tento dizer que só quero fotografar o exterior dos edifícios mas sem sucesso. Volta a insistir que com ele posso fazer tudo, e que sozinho não poderei entrar.

Fico com a impressão que ele quer vender os serviços de guia e discutimos um pouco. Digo-lhe que não me deixa alternativa, e no final confesso-lhe que não preciso de pagar um guia ao que ele me responde: _ Meu amigo, não é isso. Não precisas de me pagar nada, aqui dentro é tudo gratuito. Só tens de ir comigo!

E reforça: _ Comigo podes ver tudo e fotografar tudo! _ E lá fomos. Passados uns minutos pergunta-me se me pode juntar a um outro casal de turistas para a visita. Claro que não há problema e vamos todos com visita guiada.

O outro casal viajava com dois filhos adolescentes. Ele britânico, ela uma Iraniana que tinha abandonado o país há 22 anos e nunca mais tinha voltado. Os filhos mesmo sem nunca terem ido ao Irão falavam Farsi.

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Entramos no santuário principal e vejo um dos mais impressionantes edifícios do país. Tectos e paredes forrados com pequenos azulejos espelhados, candeeiros ricamente ornamentados e um grande número de salas dedicadas à oração.

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Percorremos os vários edifícios do complexo, todos eles ricamente decorados com azulejos em tons de azul. O guia vai-nos explicando as funções de cada um e a sua origem. Este é um dos locais mais impressionantes que visitei no Irão.

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No final da visita pergunta-nos gentilemente se o podemos acompanhar a um novo serviço que tinham criado para turistas. Dizemos que sim e somos conduzidos para uma sala onde nos é servido chá acompanhado de umas bolachas. Juntam-se mais algumas pessoas pertencentes à organização e explicam-nos o propósito.

Mais uma vez o complexo e a vontade em mudar a imagem que o Irão tem no exterior. Começam por nos dizer que o Irão condena todo o tipo de atentados terroristas como os que aconteceram muito recentemente em Paris. Fazem questão de frizar que o Islão não é aquilo nem apoia atitudes daquele género. Distribuem-nos alguns panfletos e abrem a discussão para saberem a nossa opinião. Temos uma interessante discussão sobre o assunto e sobre o que poderá ser feito no futuro. No final agradecem-nos e ajudam-nos a sair do complexo. Por vezes fico com a impressão que o Irão, por ser tão fechado tem dificuldade em entender a realidade lá fora e em saber a melhor forma de agir. Sinto assim que também os ajudámos.

Bem no centro da cidade fica a fortaleza Arg-e Karim Khan construída em inícios do período Zand com o objectivo de mostrar alguma imponência à grande rival Esfahan. As suas muralhas estão elegantemente decoradas com tijolo e acabam em quatro imponentes torres circulares, uma em cada canto, com cerca de 14m.

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Uma das torres apresenta uma grande inclinação dado ter sido construída sobre a cisterna que alimentava a zona dos banhos e esta estar a ceder. No interior, um grande páteo com citrinos e mais um grande lago.

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Um dos meu objectivos do dia era também o de encontrar um motorista que me pudesse levar a Persépolis no dia seguinte, cerca de 60 Km a norte da cidade. Durante a visita a Arg-e Karim Khan conheço Yusuf, que depois de uma simpática conversa me pergunta se não preciso de um guia e motorista para ir a Persépolis. Digo-lhe que sim, que não preciso de guia, mas que o motorista será bem-vindo. Fala-me do preço e diz que faz um desconto então. Acertamos os detalhes, trocamos números de telefone e fica agendado.

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O telefone toca já depois de jantar, atendo e era Yusuf. Vem com uma estranha conversa sobre o carro e sobre o facto de o termos de ir buscar a outro ponto da cidade. Não percebo bem a ideia, mas digo que está bem e que não há problema.

Acordo com um lindo dia de sol, a contrastar com o dia anterior que tinha sido mais chuvoso. Perfeito para conhecer Persépolis. Tomo o pequeno almoço com calma e vejo Yusuf chegar à entrada do hotel tal como combinado.

Cumprimento Yusuf e saímos do parque do hotel. Yusuf pede desculpa e diz que temos de ir buscar o carro. Vamos conversando rua abaixo e pergunto se é longe. Diz-me que temos de apanhar um taxi para ir até ao carro mas que será rápido. É então que começa com uma conversa um pouco estranha. Diz-me que será meu guia e que não me poderei distrair com outras pessoas por lá. Reforço que não pedi guia, só um motorista, ao que ele assente, mas que ainda assim insiste em ir comigo. Cerca de 500 m mais abaixo pára um táxi e começa a falar com o taxista. Vejo-o puxar de uma tabela e consigo entender que estão a negociar o preço para irmos para Persépolis. Confronto-o com esse facto quando estamos a entrar no taxi e ele faz-se desentendido. Insisto em saber qual é mesmo o objectivo de depois de uma acesa discussão percebo que na realidade Yusuf apenas criou um esquema para ir comigo a Persépolis, de taxi e tentar cobrar serviços de guia. Peço ao taxista para parar e saio e digo a Yusuf que não foi nada daquilo que tínhamos combinado. Queria um motorista para me levar e só isso, e para apanhar um taxi não preciso de ajuda.

Yusuf segue-me por algum tempo a tentar explicar-se e mostrar que compreendi mal. Digo-lhe para se ir embora e agradeço ter estragado a minha manhã. Volto ao hotel e peço um taxi na recepção. Pago quase o mesmo...

A viagem dura quase 1h até Persépolis. O taxista deixa-me na entrada e diz-me que espera no parque anexo. Tiro todo o equipamento e dirijo-me à bilheteira.

A magnífica Persépolis era a antiga capital do Império Aqueménida, e foi declarada como Património da Humanidade pela UNESCO em 1979. A partir de 522 ac e durante um largo período dominou toda a região do Médio Oriente. Alexandre, o Grande chegou a permancecer aqui algum tempo aquando da sua invasão ao Império Aqueménida.

Ainda são visíveis sinais do incêndio que aconteceu no palácio oriental de Xerxes e que se alastrou por toda a cidade, causando a sua destruição parcial.

É um dos lugares arqueológicos mais importantes do mundo tanto pelas suas impressionantes ruínas como pela enorme variedade de artefactos aqui encontrados.

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É incrível também o facto de um lugar desta natureza e com esta riqueza não ter quase turistas e ser possível visitar de forma bastante tranquila. Em qualquer outro lugar do mundo, um sítio histórico deste género estaria apinhado de gente com máquinas a tiracolo e em grande algazarra. Aqui, paz e tranquilidade, que é o principal para se poder disfrutar de um local com esta grandeza.

Começo pela imponente Porta de Xerxes e o seu grande arco que ainda hoje impressiona os visitantes à sua chegada.

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Sigo, através do Palácio Apadana até ao Palácio das 100 Colunas. Volto a Apadana e ao seu grandioso hall central onde ainda estão de pé algumas das suas majestosas colunas.

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Subo as escadas do Astana e delicio-me com os magníficos painés e com o seu conteúdo. Estão aqui registos históricos impressionantes e retratados alguns dos momentos mais marcadas da história da humanidade.

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Contorno o Hadish, um dos mais bem conservados e sigo para este, para as colinas onde foram cravados na rocha os dois ostentosos túmulos de Artaxerxes II e Artaxerxes III.

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Junto a Persépolis estão mais dois lugares de bastante importância arqueológica. O primeiro, Naqsh-e Rajab, possui algumas cenas das conquistas imperiais e de algumas cerimónias perfeitamente imortalizadas em vários painéis nas rochas. Depois de Persépolis a sua imponência é menor, mas não deixam de valer uma pequena visita.

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Poucos quilómetros mais à frente está Naqsh-e Rostam, um grande penhasco que alberga os túmulos de Darius II, Artaxerxes I, Darius I e Xerxes I. Nele estão também gravados episódios das conquistas e cerimónias reais.

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Apesar de menos conhecido não deixa de ser um lugar grandioso. A dimensão dos túmulos é impressionante e a forma como foram construídos também.

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Em Naqsh-e Rostam termina a visita a Shiraz. O regresso a Teerão é feito por avião e demora pouco mais de uma hora. Sobram uns dias para descansar desta aventura que foi das mais marcantes da minha vida. Apesar das altas espectativas que trazia o Irão não desiludiu e ganhou um lugar de destaque nas minhas preferências.

A diversidade das paisagens, a sua beleza, a cultura, o deserto, a gastronomia e acima de tudo as pessoas, fazem do Irão um destino obrigatório. Aqui passei alguns dos momentos mais especiais da minha existência e aqui fui tratado e acarinhado como em nenhum outro lugar do mundo. É um país muito grande e ainda ficou muito para ver. Quero muito voltar e na hora da despedida fica um emocionado: _ Até já Irão!

 

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