Qatar 1 - Doha
"Os olhos são o espelho da alma", Alexander Lowen
Oh sim, que o Médio-Oriente volta a chamar por mim...
Projecto sucessivamente adiado, meses e meses de expectativa e eis que, finalmente se concretiza mas na pior altura do ano. Época do calor, da humidade, do pó e em pleno Ramadão... Uma mescla de condições, todas elas agradáveis, que me acolhem em Doha.
O Qatar é um pequeno país com pouco mais de 800 000 habitantes confinado numa península em pleno Golfo Pérsico. Uma península para não dizer uma língua de areia, pó e pedras que entram mar adentro sobre uma camada de gás e outra de petróleo que tornam este reinado num dos países mais ricos e prósperos do mundo.
Na realidade, esta monótona paisagem alberga muito mais do que o que possamos imaginar à partida. Um misto de tradição, cultura e sofisticação convivem em Doha num ambiente bastante alegre e tranquilo. Na envolvente a magia do deserto e todo o seu potencial.
Doha divide-se em dois mundos, o antigo e interessante, o novo e apático, um de cada lado da grande e lindíssima baía que banha a cidade. A sua marginal é a Corniche, uma das atracções da cidade e dos principais locais de lazer.
No coração da zona antiga da cidade fica Souq Waqif, um grande mercado recentemente convertido que alberga um grande número de lojas, cafés e restaurantes. É o centro social da cidade e ponto de encontro para os locais de todos os estratos sociais.
Local ideal para souvenirs, produtos locais e acima de tudo para o convívio na sua infindável lista de cafés e restaurantes onde a shisha está também sempre presente.
Apesar de renovado, Souq Waqif mantém toda a traça inicial e continua fiel ao mercado que aqui existe há séculos.
Num dos extremos do Souq fica um dos mais emblemáticos edifícios de Doha, o Qatar Islamic Cultural Center, com o seu minarete em espiral e que pode ser apreciado de quase toda a parte antiga da cidade.
Um dos pontos fortes de Doha são mesmo as vistas em torno da baía. De ambos os lados é possível obter imagens bastante impressionantes, sobretudo à noite.
Num moderno e elegante edifício, brindado com um pequeno e subtil toque clássico, fica o Museu de Arte Islâmica. Um lindíssimo museu localizado numa das pontas da baía e de onde se obtêm algumas das melhores vistas da cidade.
Ponto de visita obrigatório tanto para visitantes como para residentes que aqui podem usufruír de um espaço ímpar e muito tranquilo.
Adjacente ao museu está o muito típico porto de Dhow Harbour, albergue de um grande número de barcos tradicionais desta parte do globo. Foi neste pequeno porto que começou uma das minha aventuras fotográficas de uma manhã de sexta, primeiro dia de fim-de-semana no Qatar.
Um dos inconvenientes de visitar o Qatar em Julho é o facto de não se poder saír à rua entre as 7 da manhã e as 5 da tarde. Calor extremo e um sol tórrido tornam qualquer passeio num martírio. Para agravar, durante o ramadão não é permitido comer e beber em público e a falta de água neste ambiente tem os seus riscos.
Ora um dos problemas que encontrei foi o facto de que ao saír após as 5 da tarde já não estava a conseguir captar a beleza da baía de Doha e todo o esplendor das suas águas de um tom de azul que só apetece mergulhar lá dentro. Ao fim do dia o mar torna-se mais escuro e não reflecte aquilo que verdadeiramente é...
Decido arriscar e lá vou eu. Quero muito aquele tom de azul sempre tão delicioso! Saio cedo, táxi até ao porto e lá estou eu entregue a 42ºC de temperatura, ao sol que escalda na pele, e ao vazio, pois ninguém se aventura a andar por aqui a pé nesta hora do dia...
Mas sou mais que recompensado. Ao londo do meu passeio de 5Km consigo registar e deliciar-me com um dos mares mais bonitos que já conheci. Grande inconveniente, é proibido tomar banho! O Qatar ainda não tomou consciência de muito do potencial que aqui tem...
O Qatar tem também muita tradição nas pérolas, o que foi durante muitos anos parte do sustento do país.
Não é a primeira vez que visito um país muçulmano mas é a primeira vez que experiencio o Ramadão. De facto é algo que à partida nos assusta dada a infinidade de limitações que são impostas em especial relacionadas com as nossas tradicionais refeições.
Mas no final, ainda que com alguma dificuldade tudo é gerível. Apesar de praticamente todos os restaurantes estarem fechados, é possível refugirmo-nos e seguirmos com as nossas refeições normais. Claro que comprando em antecipação e estando fora das vistas dos locais.
Depois do pôr-do-sol, tudo volta ao normal! A grande dificuldade foi mesmo a falta de café durante o dia...
Deveras impressionante é também o ritmo de crescimento do país. Vários eventos internacionais como o campeonato do mundo de futebol e a escalada da economia lançada pela exportação massiva de gás e petróleo vão alterando por completo a fisionomia da cidade, cada vez mais alta, cada vez mais imponente...